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Acessibilidade

“Eu não acho que ficamos cegos. Acho que somos cegos. Cegos que podem ver, mas não vêem”. Personagem do livro Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago.

Diariamente, os limites da humanidade e da civilização são rompidos, mas parece que não queremos enxergar. Será que todos nós estamos ficando cegos?, diz Saramago.

Ao dispararem o botão da câmera, focando a acessibilidade, pessoas com deficiência visual propõem uma discussão sobre a questão da técnica e da estética fotográfica, além de transformar o ato de fotografar num ato político que nos faz repensar o conceito de cegueira. Afinal, você vê, enxerga ou também tem deficiência visual? O projeto de fotografia para pessoas com deficiência visual teve início em março de 2008, após solicitação de dois frequentadores do Espaço Braille do Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro, como parte dos projetos de Iniciativas Sociais da instituição e foi desenvolvido com a metodologia da alfabetização visual*, que capacita alunos do Bacharelado em Fotografia para atuarem como educadores em projetos socioculturais de maneira refletiva, consciente e crítica.

O curso desenvolve a fotografia participativa com jovens e adultos com deficiência visual, onde os alunos aprendem a usar a fotografia como meio de expressão criativa e inclusão social, comunicando suas percepções sobre o mundo e despertando consciência no público vidente sobre a realidade da comunidade cega. As aulas são planejadas e ministradas pelos educadores, com o apoio de professores, e acontecem semanalmente. Durante o curso foram realizadas saídas fotográficas pela cidade de São Paulo com o objetivo de explorar o tema proposto para estudo. Alguns desses locais foram: o Jardim Botânico, a Praça da Sé, a Avenida Paulista e o Pátio do Colégio.

Desde o início, educadores e professores pesquisaram e participaram de várias orientações sob mobilidade e acessibilidade, realizando visitas à Pinacoteca do Estado de São Paulo, ao Museu do Diálogo, em Campinas, e à Associação Laramara. Essa é uma parte fundamental do processo de capacitação de quem ministra o curso.

O tema desta segunda exposição foi sugerido pelos alunos quando discutíamos uma fotografia tirada por João Maia. Este catálogo acompanha a mostra fotográfica acessível a pessoas com deficiência visual, com fotos em relevo e textos em braile. Esperamos que as imagens apresentadas provoquem a reflexão sobre algumas questões do cotidiano e sobre a cegueira que permeia nossa sociedade, pois como disse Antoine de Saint-Exupéry: “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.

Prof. João Kulcsár

(*) O conceito de alfabetização visual foi desenvolvido pelo professor João Kulcsár em tese de mestrado, na Universidade de Kent (Inglaterra), nos anos 90, e na Universidade de Harvard (Estados Unidos), onde esteve como professor visitante em 2002 e 2003.

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